Joel Brozovsky
Muita gente acha que o inglês resolveu o colossal problema lingüístico. Portanto não há gente que defenda o Esperanto nos Estados Unidos, certo? Errado. A ELNA (Liga Norte-Americana de Esperanto) é uma das associações nacionais mais ativas no mundo. Existem vários autores e professores universitários de renome que utilizam e recomendam o uso de uma língua neutra internacional como o Esperanto. O artigo abaixo foi escrito por um norte-americano que sentiu na pele a diferença entre usar sua língua materna e o Esperanto ao viajar pelo mundo. Ele atualmente mora em Kameoka, no Japão.
Quando sou apresentado a alguém, sempre se espantam que eu, um norte-americano, use o Esperanto no Japão, ao invés do inglês. Às vezes nem acreditam que eu seja mesmo dos Estados Unidos, porque me ouviram falar apenas em Esperanto.
Claro que a maioria dos norte-americanos prefere usar o inglês. Muitos acham que o inglês já basta e que todos no mundo deveriam aprendê-lo. Por que então eu prefiro usar o Esperanto para comunicar-me com quem não tem o inglês como língua nativa? Eis algumas razões:
Amizade. Em minhas longas viagens eu percebi que a maioria das pessoas que falavam comigo em inglês não se interessavam por mim como pessoa, nem por minha cultura. Estavam interessados em primeiro lugar no dinheiro. Ou eles queriam vender alguma coisa para mim, ou queriam aprender o inglês comigo, para poderem receber uma melhor educação e um salário mais alto. Do outro lado, uma grande porcentagem das pessoas com quem eu falo em Esperanto se interessam por mim como indivíduo e pela minha cultura. Muitos querem fazer amizade, e realmente de muitos eu me tornei amigo.
Igualdade. Se eu falo inglês com um japonês ou qualquer outro cuja língua materna não é o inglês, eu necessariamente vou estar na posição de "expert" na língua, e não importa quanto tempo essa pessoa tenha estudado o inglês ela vai falar num nível inferior, como um aluno diante de um professor, ou um empregado diante do patrão. Se nós conversássemos na língua dela, por exemplo em japonês, a situação seria a mesma, mas inversa. Essa desigualdade atrapalha muito o contato.
Abertura de portas. Durante minha longa volta ao mundo, o Esperanto abriu uma quantidade enorme de portas para mim, literalmente. Eu fui hospedado em 150 casas de esperantistas durante essa viagem de três anos, e só uma noite um passei em hotel! Através do Esperanto e de esperantistas eu pude desfrutar de um cultura muito rica, encontrar pessoas muito diferentes e conhecer de perto suas vidas, culturas, lares, pensamentos etc.
Alguns de meus bons amigos, depois de anos de amizade, confessaram que antes de me encontrar eles não gostavam de norte-americanos. Se eu tivesse usado o inglês, então, eu certamente não poderia ter me tornado amigo dessas pessoas, que são agora muito queridas. O Esperanto abriu as portas para eles.
Ajudar o mundo. Trabalhando para divulgar o Esperanto, eu tenho a impressão que faço algo de útil para o mundo. Se as pessoas puderem comunicar-se livremente, de igual para igual, e se conhecerem através do uso do Esperanto, certamente o mundo se tornará melhor, mais justo, mais simpático. Claro que eu não imagino que o Esperanto sozinho resolva todos os problemas do mundo, mas ele pode ajudar as pessoas a encontrar soluções.
Criatividade. Eu gosto muito de usar o Esperanto porque ele leva a uma maior criatividade. Por causa da grande flexibilidade da língua, eu me sinto mais livre escrevendo ou falando em Esperanto, em comparação com o inglês, cuja estrutura e vocabulário são relativamente mais rígidos. As possibilidades de se usar novas expressões em Esperanto são quase ilimitadas; é uma grande alegria buscá-las e encontrar a fórmula precisa, usando os elementos que já existem na língua.
Experiências valiosas e auto-confiança. Atravessando portas abertas pelo Esperanto eu tive muitas experiências valiosas, que dificilmente eu poderia ter sem o Esperanto. Experiências tão ricas contribuíram para minha auto-confiança e prepararam-me para agir com mais competência no mundo.
Nova visão de mundo. Talvez a maior vantagem que eu recebi tenha sido uma mudança drástica na minha visão de mundo. Antes eu achava que o mundo estava cheio de estrangeiros - gente muito diferente e inatingível. Com "gringos" não dá para ser simpático, porque eles são estranhos, não é? No entanto, graças à minha vivência usando o Esperanto, eu descobri que essa é uma visão muito errônea. O mundo está cheio, não de estrangeiros, mas de pessoas como eu e minha família. E mais, muitas dessas pessoas querem ser meus amigos, se tiverem a oportunidade de encontrar-se comigo e me conhecer. Logo, não são estrangeiros, mas amigos ou futuros amigos.
Que grande diferença! Agora eu me sinto realmente ligado às pessoas mundo afora. E eu não me sinto mais preso a apenas uma parte do mundo, a apenas uma língua, uma cultura. Eu sou livre para interagir com as pessoas no mundo, porque em toda parte se encontram pessoas amistosas e porque o Esperanto me dá os meios de falar facilmente com elas.
* artigo publicado originalmente na revista Nova Vojo (Oomoto, Japão) e reproduzido na revista Esperanto, número. 1099, pág. 11, de Janeiro/98. Traduzido pelo KCE.
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