quinta-feira, 13 de março de 2008

Cientista americano apresenta no Brasil estudo em que cérebro controla máquinas

São Paulo, 13 de março de 2008 - O neurocientista, Miguel Nicolelis, professor titular do Departamento de Neurobiologia da Universidade Duke, nos Estados Unidos, estuda a integração do cérebro humano com máquinas, visando à criação de próteses neurais para a reabilitação de pacientes com paralisia corporal causada por doenças neurodegenerativas. Ele descobriu, e mostrou detalhes durante a palestra “Navegando pela fronteira da neurociência”, um sistema que, por meio do registro simultâneo de centenas de neurônios no córtex de macacos, possibilitou a criação de braços mecânicos controlados por sinais cerebrais emitidos pelos animais.

Nicolelis esteve na tarde desta quarta-feira (12/3) no teatro da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), na capital paulista. De volta à FMUSP, onde se formou em 1984, mostrou suas principais conquistas científicas nas duas décadas em que esteve fora do Brasil “em busca de um sonho que nasceu na época de estudante”.

“Essa foi a primeira vez na história em que o cérebro de um primata se libertou do corpo e, em menos de 200 milissegundos, executou uma função motora sem a necessidade de nenhuma contração muscular, valendo-se apenas de uma ferramenta criada por outro primata”, disse o neurocientista, que é também co-diretor do Centro de Neuroengenharia de Duke.

“A interface cérebro-máquina criada por nosso grupo de pesquisa fez com que o macaco não precisasse mais usar suas características biológicas para realizar um desejo motor. O cérebro aprendeu a imaginar o movimento, que é transferido para o robô para que ele se mexa dentro do mesmo tempo que um braço biológico usa para executar um pensamento motor”, explicou.

Nicolelis apresentou outro estudo, concluído no começo deste ano, que fez com que, também de maneira inédita, um robô andasse a partir de um sinal cerebral de uma macaca. Os sinais foram emitidos pelo animal do laboratório de Nicolelis, na Carolina do Norte, para o robô que estava em um centro de pesquisas em robótica em Kyoto, no Japão.

“Enquanto o macaco andava em uma esteira, na costa leste dos Estados Unidos, registramos as atividades elétricas de seu cérebro e marcamos, com tintas fluorescentes, as diferentes articulações de seu quadril, joelho, tornozelo e pé. Por meio de 300 células neurais do animal, conseguimos reproduzir todo o seu padrão de locomoção”, explicou.

“Enviamos os sinais cerebrais do macaco em tempo real para o robô no Japão, que começou a caminhar, também em menos de 200 milissegundos, sob o controle do primata. Em seguida, desligamos a esteira e a macaca parou de andar, mas ela continuou a pensar na necessidade de andar, fazendo com que o robô do outro lado do mundo caminhasse por mais dez minutos”, disse.

Nicolelis afirmou estar prestes a criar uma interface cérebro-máquina que seria a base da tecnologia de neuroprótese, uma vez que o cérebro de um paciente que sofre lesão medular, por exemplo, continua tendo o desejo de se mexer mesmo que os sinais cerebrais não alcancem a medula espinhal, devido à interrupção das vias neurais que levam a mensagem até a musculatura.

“Estamos desenvolvendo uma espécie de veste robótica que permitirá ao ser humano usar o desejo voluntário do cérebro de se mexer para se movimentar. Esse exoesqueleto robótico será comandado pela vontade motora dos indivíduos que perderam movimentos. Os experimentos clínicos envolvendo essa tecnologia, que terão início em breve, serão realizados conjuntamente por institutos de neurociência instalados em diferentes países”, antecipou.

Agência Fapesp - 13/03/2008

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